'Ilhas de lixo' voltam a se formar no Rio Gravataí, no RS; especialistas indicam ameaça à fauna do local

  • 17/12/2025
(Foto: Reprodução)
Novas 'ilhas de lixo' se formam no Rio Gravataí O descarte irregular de lixo e o despejo de esgoto sem tratamento continuam a poluir o Rio Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Ao navegar por sete quilômetros do rio, avista-se um cenário tomado por diversos tipos de lixo, como caixas de isopor, peças de construção, roupas, um colchão e inúmeras sacolas plásticas presas nos galhos das árvores. O acúmulo de detritos repete um problema que foi apontado por moradores e ambientalistas em fevereiro de 2023, que denunciaram a formação de uma imensa ilha de lixo com mais de 100 metros de extensão em Cachoeirinha. 📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp Agora, próximo ao ponto da denúncia anterior, pequenos acúmulos de lixo se formam novamente, compostos por materiais que poderiam ser reciclados. "O lixo no rio não vem parar aqui sozinho. Ele é jogado pelas pessoas que jogam na rua, nos córregos, arroios e vem parar no rio. É o resultado de vários erros, de várias pessoas", afirma Leonardo da Costa, presidente da Associação de Preservação da Natureza do Vale do Gravata Além do lixo sólido, o rio também recebe esgoto. Em um ponto, a água se torna visivelmente mais escura devido ao despejo de efluentes do Arroio Sarandi, que atravessa um bairro de mesmo nome. Segundo o biólogo Izidoro Sarmento do Amaral, trata-se de "esgoto in natura", que deveria ser tratado antes de chegar ao rio. "Essa água possui uma série de produtos químicos que matam a fauna do rio, retira a oxigenação da água e causa um grande número de problemas para a vida desses animais", explica o biólogo. A poluição impacta diretamente a vida selvagem. A presença de centenas de garças nos galhos das árvores, por exemplo, é um sinal de alerta. "É sinal que elas estão prevendo que, com a baixa oxigenação da água, os peixes vão morrer. E quando os peixes boiam, elas são as primeiras a comer", detalha Izidoro. O gavião-caboclo, uma ave de rapina rara na região, também corre risco ao se alimentar de presas contaminadas. "O nosso rio, que deveria ser espaço de lazer, de pesca, ele é espaço de esgoto, espaço do que não deveria ser", lamenta Leonardo. O que dizem as autoridades As prefeituras de Cachoeirinha e Canoas informaram que realizam ações de limpeza e monitoramento. A de Canoas acrescentou que fará vistorias para identificar pontos críticos e possíveis responsáveis por descarte irregular. A Prefeitura de Porto Alegre disse que a Estação de Tratamento Sarandi foi destruída pela enchente e deve voltar a operar no primeiro trimestre de 2026, após um investimento de mais de R$ 10 milhões. A Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) afirmou que não recebeu novas denúncias sobre o caso. Para ambientalistas, são necessárias medidas urgentes para recuperar o ecossistema. Ilhas de lixo voltam a se formar no Rio Gravataí Reprodução/RBS TV O que diz a Fepam "A Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) informa que, até o momento, não recebeu novas denúncias relacionadas ao descarte de resíduos no trecho do Rio Gravataí citado pela reportagem. É importante destacar que o descarte irregular de resíduos sólidos — como garrafas PET, móveis, colchões e demais materiais observados — caracteriza-se como questão de limpeza urbana e manejo de resíduos, cuja responsabilidade é dos municípios, conforme a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei Federal nº 12.305/2010). A competência para atuação nesses casos não se define pelo curso hídrico onde o resíduo aparece, mas sim pelo gerador do resíduo e pelo local onde ocorre o descarte. A Fepam atua de forma complementar, especialmente em situações de risco ambiental significativo, atividades potencialmente poluidoras licenciadas pelo Estado ou casos em que há identificação de dano ambiental de maior gravidade. Para denúncias, os cidadãos podem entrar em contato pelo site da Fepam, que a equipe fará a análise e os devidos encaminhamentos." O que diz a Prefeitura de Canoas "A Prefeitura de Canoas, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, informa que além das ações já implementadas, o município realizará vistorias ao longo do trecho do rio para identificar pontos críticos e possíveis responsáveis pelos descartes irregulares. Também foi solicitado à Guarda Municipal que intensifique a atenção e o monitoramento da área, de forma integrada às equipes de fiscalização ambiental e de Serviços Urbanos, com o objetivo de coibir novos atos que prejudicam o meio ambiente O Município segue com suas ações de fiscalização ambiental, com trabalho contínuo e integrado para coibir descartes irregulares em todo o Município. As operações contam com apoio da Guarda Municipal, Vigilância em Saúde, Secretaria Municipal de Serviços Urbanos e Patrulhamento Tático Móvel, incluindo autuações e multas quando necessárias. Canoas conta com oito cooperativas responsáveis pela coleta seletiva, seguindo roteiros oficiais, e uma cooperativa especializada na coleta de resíduos eletroeletrônicos. Cada cooperativa possui dois educadores ambientais do projeto Canoas Recicla com a Gente, que atuam junto à comunidade com visitas, palestras e orientações, fortalecendo a conscientização ambiental. O sistema municipal de coleta seletiva abrange diferentes modalidades para garantir maior eficiência e alcance, incluindo a coleta porta a porta, os Pontos de Entrega Voluntária (PEVs), a coleta de eletrônicos mediante agendamento e o Bikeco, utilizado na região central como alternativa sustentável de coleta Além da fiscalização e da coleta seletiva, o Município também tem ampliado suas iniciativas de educação ambiental, com a realização de eventos e a produção de material educativo para conscientizar e orientar a população." O que diz a Prefeitura de Cachoeirinha "A Prefeitura de Cachoeirinha reafirma seu compromisso com a preservação ambiental e o cuidado com o Rio Gravataí. Em 2023, o município realizou, com recursos próprios e sem apoio de outros entes públicos, uma ampla operação de limpeza no trecho do rio localizado em Cachoeirinha. O trabalho durou cerca de um mês, resultou na retirada de mais de 136 toneladas de resíduos sólidos e representou um investimento de R$ 1,5 milhão do orçamento municipal. É importante destacar que o material removido não era oriundo exclusivamente de Cachoeirinha. O Rio Gravataí possui aproximadamente 34 quilômetros de extensão e atravessa nove municípios antes de chegar ao território cachoeirinhense. Ou seja, grande parte dos resíduos visíveis no trecho local tem origem em cidades situadas a montante do curso do rio. Desde a limpeza de 2023, o trecho do Rio Gravataí em Cachoeirinha segue sendo monitorado, com a realização de ações de limpeza de suas margens em diversas ocasiões. O acúmulo de lixo em determinados pontos também é causado pelo deslocamento da água, que transporta resíduos de outras regiões. O município ampliou a coleta seletiva e implantou uma ecobarreira no Arroio Passinhos, que deságua no Gravataí, equipamento que retém, semanalmente, uma caçamba de resíduos, evitando que o material chegue ao leito do rio principal. A Prefeitura reforça que a poluição do Rio Gravataí é um problema intermunicipal e que a cooperação entre os municípios e o governo do Estado é fundamental para garantir resultados duradouros. Mesmo assim, Cachoeirinha tem feito a sua parte, agindo com responsabilidade, iniciativa e comprometimento, mesmo diante das limitações orçamentárias, para preservar um dos mais importantes cursos d’água da Região Metropolitana." O que diz a Prefeitura de Porto Alegre A Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Sarandi, operada pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) na Zona Norte, atingida pela enchente de 2024, passa por obras de reconstrução. Mais de R$ 10 milhões são investidos na substituição de equipamentos eletromecânicos, sistemas de automação e na execução de reparos estruturais. A previsão é de que a ETE volte a operar até o fim do primeiro trimestre de 2026. Inaugurada há 12 anos, a ETE Sarandi foi totalmente destruída em razão do avanço do Rio Gravataí, durante a enchente histórica de maio do ano passado. A estação tem capacidade de tratar, em nível terciário, até 133 litros de esgoto por segundo. “Atuamos, desde o ano passado, na recuperação desta estação - inclusive com a instalação de equipamentos temporários, que minimizam o impacto da paralisação das operações. A obra, que está em pleno andamento, foi antecedida por diversas outras etapas, sempre com foco na otimização da eficiência, segurança e custos operacionais da ETE”, ressalta o diretor de Esgotamento Sanitário do Dmae, Rafael Zaneti. Sistema - O Sistema de Esgotamento Sanitário (SES) Sarandi atende 50 mil moradores nos bairros Anchieta, Cristo Redentor, Jardim Carvalho, Jardim Itú-Sabará, Jardim Lindóia, Mário Quintana, Passo das Pedras, Protásio Alves, Rubem Berta, Sarandi, São Sebastião, Vila Ipiranga e Vila Jardim." VÍDEOS: Tudo sobre o RS

FONTE: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2025/12/17/ilhas-de-lixo-voltam-a-se-formar-no-rio-gravatai-no-rs-especialistas-indicam-ameaca-a-fauna-do-local.ghtml


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